A LENDA DO BOI DE JANEIRO

25/01/2015 10:17

O Boi de Janeiro é uma das manifestações mais antigas de Jequitinhonha. Ele apresenta no período de 01 a 06 de janeiro pelas ruas da cidade, sempre à noite (a partir da 19h00min) e fica até a madrugada do dia seguinte. É caracterizado pela figura de um boi que é toureado por um vaqueiro com cantigas de domínio popular, que sempre que solicitado é repartido em forma de canção, tirando as partes nobres para os pobres e as menos nobres para os ricos, sempre usando nomes de pessoas conhecidas da cidade. Sem uma data exata do seu surgimento, o Boi de Janeira da cidade de Jequitinhonha existe há mais de um século (segundo informações ele surgiu a partir de 1910) e traz contigo, diferentes histórias e cantigas, todas elas do domínio público. Segundo relatos, ele surgiu através da iniciativa de um homem chamado Olinto Barretão. Após o seu falecimento, a manifestação passou para o Sr. Fostino D’Luca, e sempre que alguém parava, outro assumia. Assim, o Boi passou por Nelça de Joal, Joaquim Tatiaia, Heraldo Barbeiro, Geraldo Capiau, Alta do Boi, Tião carreiro, Leonardo do São José, Chico Canoeiro, Santos Balseiro, entre outros. Ficou mais de meia década sem sair, sendo reativado em 2008 sob a coordenação de Maria Amélia Guimarães, mãe do prefeito da época, Antonio Bernadino Guimarães Murta - Dino (1997/2000), tendo o apoio de Santos Gonçalves que repassou para os demais as cantigas e assumiu o posto de vaqueiro do Boi, ficando a nova formação até o ano de 2000. Novamente o boi ficou um período parado, sendo reativado no ano de 2002, por Elza Pereira de Andrade, mais conhecida como “Dona Elza Có, sendo apelidado Boi Estrela. Há dois anos o Grupo do Carrapicho criou o Boi de Janeiro Carrapicho, sendo os coordenadores Santos Gonçalves e Valmir Rodrigues (Bião).

Sendo um personagem presente durante todo o mês de janeiro, ele concita a população a sair às ruas para apreciá-lo. Entre as varias musicas, uma teve a autoria de um vaqueiro, apelidado de “Juca Doido” (em virtude de ser bastante extrovertido e brincalhão). A letra faz uma crítica aos poderosos da cidade de outrora.

Conforme relato o Sr. Orlando Furini, o Sr. Olinto Barretão era militante da UDN (partido antigetulista), que fazia oposição ao PSD (partido pró-getulista). Devido o seu posicionamento político, ele foi ameaçado pelos membros do PSD que se eles fossem eleitos, o boi não sairia nas ruas ou seria todo quebrado. Passou o pleito eleitoral, o PSD elegeu o seu prefeito em Jequitinhonha e mesmo assim o boi saiu às ruas, sendo inventado por “Juca Doido” uma nova cantiga para exaltar o feito: Lá vem o sol/La vem a lua/ Lá vem o Boi Janeiro/ Passeando pelas ruas/ Quem foi que disse/ Que janeiro não saia/ Janeiro ta na rua/ Com prazer e alegria. Assim, Olinto Barretão venceu a ordem do prefeito da época, para manter viva a tradição do Boi de Janeiro.

Sendo o boi uma manifestação folclórica brasileira, seu nome varia por região, bem como, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes. Dessa forma, enquanto em Pernambuco é chamado boi-calemba ou bumbá; no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí é chamado bumba meu boi; no Ceará, é boi de reis, boi-surubim e boi-zumbi; na Bahia e Minas Gerais é boi-janeiro, boi-estrela-do-mar, dromedário e mulinha-de-ouro; Rio de Janeiro, Cabo Frio e Macaé (em Macaé, há o famoso boi do Sadi) é bumba ou folguedo-do-boi; no Espírito Santo é boi de reis; em São Paulo é boi de jacá e dança-do-boi; no Pará, Rondônia e Amazonas, é boi-bumbá; no Paraná, em Santa Catarina, é boi-de-mourão ou boi-de-mamão; no Rio Grande do Sul é bumba, boizinho, ou boi-mamão.

 

Repartição do Boi – Carrapicho

Oi me fala meu Deus, minha Nossa Senhora

No meio da rua

Janeiro deu a tora

Aiaiai Janeiro morreu!

Eu fui na queimada

Perdi meu gibão

Mulher ciumenta

Merece facão

Aiaiai Janeiro morreu!

Subi pelo pau

Desci pela rama

Menina bonita

Me joga na cama

Aiaiai Janeiro morreu!

Eu tinha um tostão

Iaiá me deu dois

Comprei foi de fita

Pra laçar meu boi.

Aiaiai Janeiro morreu!

O popão é do meu patrão - Aiaiai Janeiro morreu!

O osso traseiro é de Zé Ribeiro - Aiaiai Janeiro morreu!

A cham de dentro e de Tiradentes - Aiaiai Janeiro morreu!

O espinhaço é do velho Inácio - Aiaiai Janeiro morreu!

As duas pá tirei pra Iaiá - Aiaiai Janeiro morreu!

O cabilouro tirei para Louro - Aiaiai Janeiro morreu!

O osso do pescoço é de Zé de gosto - Aiaiai Janeiro morreu!

As duas orelhas é da mulheres feias - Aiaiai Janeiro morreu!

O coração é dos meus irmãos - Aiaiai Janeiro morreu!

As duas costelas é das mulheres donzelas - Aiaiai Janeiro morreu!

O mocotó e de sua vô - Aiaiai Janeiro morreu!

A tripa fina é das mulheres granfinas - Aiaiai Janeiro morreu!

A tripa grossa é das mulheres da roça - Aiaiai Janeiro morreu!

O vergai tirei pro seu pai - Aiaiai Janeiro morreu!

A passarinha e de sua madrinha - Aiaiai Janeiro morreu!

O coro é de Zé do Ouro - Aiaiai Janeiro morreu!

O peso da bosta é de quem ta na porta - Aiaiai Janeiro morreu!

O cú é dos urubus - Aiaiai Janeiro morreu!

Sábado choveu, domingo oruvai

Levanta Janeiro e sacode o chocalho

Aiaiai Janeiro morreu!

 

Fonte e Fotos: Setor do Patrimônio Histórico de Jequitinhonha

Agradecimentos: Efizio e José Augusto

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