Irmã Benigna a caminho da beatificação
Mais de 2 mil pessoas participam em BH de cerimônia que marcou fim da etapa local do processo para tornar beata a freira mineira. Documentos agora vão para o Vaticano
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Fiéis se emocionam diante de imagem de Irmã Benigna, na Igreja de Santa Tereza e Santa Terezinha |
A etapa local do processo de beatificação da mineira Maria da Conceição Santos, a irmã Benigna Victima de Jesus (1907–1981), foi oficialmente encerrada na manhã de ontem. Apesar da chuva que caía em Belo Horizonte, cerca de 2,3 mil pessoas lotaram a Igreja de Santa Tereza e Santa Terezinha, no Bairro Santa Tereza, Região Leste, para assistir à cerimônia iniciada às 9h40, com missa celebrada pelo arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo. A solenidade deu início à última fase do processo, a ser realizada na sede da Igreja Católica, o Vaticano.
Na etapa diocesana dos trabalhos, foram recolhidas provas de que Benigna viveu as virtudes cristãs – como fé, caridade, prudência, justiça, entre outras – com intensidade extraordinária, isso é, de forma heroica, no jargão eclesiástico. O inquérito durou um ano e três meses. Inicialmente, foi visitada a cidade onde a religiosa nasceu, Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a 271 quilômetros de Belo Horizonte. Depois, foi a vez das cidades onde a mineira morou como membro da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade (Ciansp): Lavras, Itaúna, Caeté, Lambari e BH.
"Fomos a cartórios, escolas onde ela estudou e a vários outros lugares", explicou a irmã Teresa Cristina Leite, integrante da Ciansp e presidente da comissão histórica nomeada por dom Walmor para investigar a vida da serva de Deus. Os documentos coletados compõem um calhamaço de 911 páginas. Além disso, foram ouvidas 40 pessoas que conviveram com a religiosa, 36 delas indicadas pelo postulador da causa, o italiano Paolo Vilotta, responsável por levar ao Vaticano duas cópias da documentação e dar andamento ao processo na Congregação para Causa dos Santos. "Não dá para saber quando o processo terminará", disse Vilotta.
Na etapa romana, a documentação é analisada para verificar se as medidas legais foram cumpridas corretamente. Então, designa-se um relator que, com o postulador, elabora o positio, espécie de dossiê com as provas testemunhais e documentais reunidas na fase diocesana. O positio é concluído após ser avaliado por um congresso de nove teólogos, que pode dar à causa parecer afirmativo, suspensivo ou negativo. A partir da análise dos teólogos, a votação será feita pelos cardeais e bispos e, posteriormente, pelo papa Bento XVI, a quem cabe dar a decisão final. Concluído o procedimento, irmã Benigna poderá ganhar o título de venerável. Para ser beatificada, é preciso ter realizado ao menos um milagre. "Muitos milagres já foram relatados e estão sendo analisados. Ainda não sabemos quando esse estudo vai se concluir", informou irmã Teresa.
Entrevista
MARTA MOURA, 84 anos - sobrinha de Irmã Benigna
Emocionada, com os olhos ainda úmidos, uma das sobrinhas da religiosa recordou a época em que ela vivia na cidade natal, Diamantina, antes de iniciar seu apostolado. Exibindo um retrato da tia em uma medalha pendurada no pescoço, a artista plástica contou que foi beneficiada com um milagre realizado pela serva de Deus.
1) Quando era jovem, irmã Benigna já mostrava ter vocação para a vida religiosa?
Me lembro dela adolescente, já catequista, na casa dela, sentada na cama, tocando violão. Ela aproveitava a melodia de canções famosos e fazia outras letras, com temática religiosa. Ela usava a música como instrumento para ensinar valores cristãos e para se aproximar das pessoas, para alegrá-las.
2) Na família, há casos de milagres operados por sua tia?
Eu tive câncer de mama e fui operada. Toda a família pediu a intercessão de Benigna. Dois dias depois da operação, parece que eu não tinha tido nada. Foi uma recuperação muito rápida. Para nós, isso foi um milagre.
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Dom Walmor Oliveira de Azevedo e o italiano Paolo Vilotta, postulador da causa, lacram urna com documentos do processo |
Personagem da notícia
Paolo Vilotta, postulador da causa
Discreto, italiano elogia trabalho no Brasil
Durante a cerimônia de ontem de manhã, o italiano Paolo Vilotta exibia um semblante sério e às vezes mantinha os braços cruzados. Discreto, pouco falou aos jornalistas. Natural de Roma, onde mora, o leigo Vilotta tem 30 anos e é formado em literatura e história. No processo de beatificação da mineira, ele atua como advogado, representando a Associação dos Amigos de irmã Benigna (Amaiben) e a Congregação dos Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, à qual a religiosa pertencia. Antes de seguir para o Vaticano, onde ajudará a dar continuidade ao processo, ele elogiou, com forte sotaque, a atuação da comissão histórica designada por dom Walmor para coletar documentos sobre a Serva de Deus: "Muitos documentos foram coligidos e a equipe fez um ótimo trabalho".
Fonte: Estado de Minas