Um médico ligado à instituição, que não quis se identificar, disse que vândalos estão furtando peças do aparelho de raio-x, o que pode provocar um incidente radioativo de proporções catastróficas, a exemplo do acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente com o Césio-137
Vista de fora do Hospital São Lucas
O Hospital São Lucas fechado há três anos virou moradia para mendigos e também ponto de tráfico. A denúncia feita ao periódico partiu de moradores, comerciantes do entorno, médicos e antigos funcionários. Todos reclamaram da situação encontrada na antiga unidade hospitalar.
Com o tempo, mendigos e usuários de droga tomaram conta do espaço. Para entrar eles arrombaram as janelas. O hospital está sujo, cheio de lixo, seringas, fezes espalhadas por toda a parte. Além disso, vários materiais estão sendo furtados. Macas, mesas, armários, material hospitalar. Inclusive, há sinais de que pessoas usam o Hospital São Lucas como abrigo. Isqueiros, casaco, toalhas e até embalagens de preservativo podem ser encontradas nos corredores. Quem passa pela Avenida Bernarda Laender, endereço da unidade, também sofre com a falta de segurança, especificamente no período noturno.
“A noite o hospital fica cheio de gente. Eles nos aborda, pedem dinheiro, cigarro, e depois vão para a porta do hospital. É muito perigoso. Agora, eu tenho que dar a volta no quarteirão para ir e voltar da faculdade”, afirmou a estudante Valesca Silva.
Como o hospital é particular apenas o dono pode pedir a desapropriação ou a demolição do prédio.
A Polícia Militar disse que a área onde o hospital fica tem ronda com viaturas e motos para impedir roubos e furtos. Como a situação da venda/leilão do Hospital São Lucas continua sob análise da Justiça, nada pode ser feito no imóvel. Apesar da situação, quem trabalha ou mora perto do hospital abandonado não se conforma. O medo de ser assaltado é constante.
“Nós ficamos preocupados. A situação é alarmante. A gente não sabe se são assaltantes, usuários de drogas. O medo é constante”, desabafou uma moradora.
• Perigo de incidente radioativo
Outra grave denúncia apresentada ao DIÁRIO, diz respeito a uma máquina de raios-X do Hospital São Lucas. Quase todo o equipamento já foi desmontado, como o painel de controle e a instalação elétrica. A única parte intacta é a cápsula radioativa, que se aberta pode espalhar radiação, inclusive ocasionando sequelas como doenças dermatológicas e até câncer de pele. O contágio pode afetar centenas ou milhares de pessoas. A denúncia foi feita por um médico ligado à instituição.
• Fechamento, reabertura e reivindicações trabalhistas
O São Lucas funcionou por cerca de 40 anos, mas está totalmente fechado desde novembro de 2010 por ordem do ex-deputado estadual Ruy Muniz, que era o gestor do hospital desde 2008. Na ocasião ele afirmou que não tinha nenhum interesse em continuar mantendo o estabelecimento e liberou os funcionários.
À época o hospital contava com 110 leitos, quatro blocos cirúrgicos e 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Após uma ação trabalhista movida por ex-funcionários, o São Lucas foi a leilão pelo
Tribunal Regional do Trabalho e arrematado por R$ 2,4 milhões (valor cinco vezes menor dos que os R$ 12 milhões avaliados).
A batida do martelo foi dada em apenas três minutos após o inicio do leilão e os compradores foram dois irmãos da empresa Auto-Giro e a rede de supermercados Coelho Diniz, de Governador Valadares.
Cerca de R$ 1,5 milhão do dinheiro arrecadado, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Teófilo Otoni (SITESSTOR), Gilberto Nascimento Reis, seria para pagamento de ações trabalhistas dos cerca de 120 ex-empregados que foram demitidos com o fechamento da unidade em 2010 e ficaram com mais de seis meses de salários atrasados.
No entanto, os antigos donos recorreram e agora aguardam uma decisão da Justiça, após recurso extraordinário do processo no STJ.
Fonte: Diário de Teófilo Otoni, VIA Revista Philadelfia